Ground l MU.SA Lab Arte


Exposição individual l Solo show

Trabalhos sobre papel l Works on paper

MU.SA Lab ArteMuseu das Artes de Sintra
19.09 - 18.11.2015





Sérgio Costa © 2015


A superfície [ground_fond] tal como surge numa extensividade homogénea é em si uma projecção de algo ‘mais fundo’ [profond]: apenas este último pode ser chamado Ungrund ou sem fundo [groundless]. A lei de figura e fundo nunca se sustenta para objectos que se distinguem de um fundo neutro ou de um fundo de outros objectos a menos que o próprio objecto estabeleça uma relação com a sua própria profundidade. A relação entre figura e fundo é apenas uma relação plana extrínseca que pressupõe uma relação interna, volumosa entre superfícies e a profundidade que as envolve.

Deleuze, Gilles (1994). Difference and repetition. New York: Columbia University Press


No projecto “Ground” a dispersão de tinta através da técnica de “spray” sobre papel descobre a extensividade como um acidente inseparável da própria matéria da pintura. O excesso de tinta que se dispersou para além da área pintada revela uma continuidade simultânea entre os objectos, um evento que se desdobra através do próprio processo de construção; superfícies em extensão que embora posteriormente dissociadas, mantêm uma relação estrutural.

Subtrair a figura enquanto “fundo” do fundo introduz um espaço de passagem, um esvaziamento que cria ressonância. Tal como uma dobra é sempre dobrada no interior de uma dobra, esta exerce uma torção sobre a superfície, presume um interior e um exterior, superfície e fundo. A acção de dobrar_desdobrar manifesta de cada vez e simultaneamente um diferencial que caracteriza uma ocorrência em termos de contracção_dilatação, envolvimento_desenvolvimento, tensão_distensão.

O suporte de papel é o fundo (ground) que indicia o processo de preparação da pintura. Um espaço que se revela através de processos de interferência, acções conjuntas, circuitos, ocorrências, níveis e limiares, passagens e distribuições de intensidades. Embora a superfície da pintura na sua integridade, seja fundamentalmente restritiva - espaço das hesitações, incapacidades, da insolência dos materiais; a sua supressão dá lugar a uma outra hegemonia, uma descontinuidade numa série de interdependências, camada após camada, que o processo artístico encobre e descobre.

Sérgio Costa
set 2015